segunda-feira, março 20, 2006

*Bananas*

Aqui fica um texto um pco antigo, k n podia deixar d expor. Li-o já há mto tempo, e continuo a axar k está mto bom. Escrito por Miguel Esteves CArdoso, e publicado in "Causa das Coisas".

...A paixão, segundo São Banana, não vale a pena. A paixão, segundo as lendas do Lobisomem, é uma lenda. E a verdadeira paixão é uma guerra constante, cheia de sangue, suor e lágrimas, uma luta entre amantes, em que cada um se quer assenhorar do outro, conquistar, arrumar, vencer - e é por estarem tão embrulhados um no outro, com cabelos e unhas a saltar, que não reparam em mais ninguém e se fazem apaixonados.
Hoje em dia toda a gente deseja estupidamente que o amor traga a felicidade, quando o amor nem sequer se pode pensar nesses termos. É incerteza, delírio, sobressalto, angústia, maldade e abdicação, delícia, miséria, êxtase, exaltação - mas nada tem a ver com a felicidade. Querer o amor sem sofrimento é como querer comer um pêssego sem caroço: quanto muito vai-se roendo devagarinho à volta, e no fim morre-se sempre à fome. Há uma pena que se cumpre com cada paixão, e para merecer essa pena é preciso amar-se criminosamente. A paixão é sempre sim ou não. Ou tudo ou nada.
Outra enormidade actual é a ideia de que dois seres apaixonados podem ser «amigos». Isto é como querer que um vulcão também sirva para aquecer um tacho de sopa. Ofende tanto a amizade - ou o fogão - como o amor - e o vulcão. Ser amigo é querer o bem de alguém. Amar é querer alguém e acabou. Se for a bem, melhor. Se for a mal, é porque teve que ser. Um vulcão só rompe de quando em quando, e as vezes uma única vez. Como o amor. E um fogão dura quase toda a vida, como a amizade. Hoje em dia fala-se de amor, e pratica-se o amor com uma timidez, com um respeitinho, uma esmerada educação e um serviço de bar, que consola mas não assola, que entretém mas não aquece nem arrefece. As pessoas falam, falam, buscando atabalhoadamente a verdade, e a análise e a psicanálise e o diabo a sete. Analisam-se e entorpecem-se e dialogam-se e adormecem-se e depois admiram-se que não haja faósca para os acordar.
Cada homem deseja uma fera para domar e não conseguir, para dar a máxima luta e resistir, para lhe dar a volta, e o dente, e a razão de ser. As mulheres gostam tanto de desafios como os homens. Querem alguém que lhes crie a vontade de mudá-los. E para querer mudá-los, algo tem de estar deliciosamente errado á partida. É aquilo que está errado nas pessoas por quem nos apaixonamos - o orgulho, o egoísmo, a personalidade, a teimosia, a mania que manda e tudo mais - que nos faz apaixonarmo-nos por elas. Quem quer apenas um «companheiro» torna-se sócio de um clube de campismo ou de Bridge.
O ciúme, a culpa, o pecado, que é o fundamento indispensável do amor, são a naturalidade repreensível das boas - péssimas - relações entre os sexos. A igualdade entre os sexos não significa que um homem tenha que ser igual a uma mulher. Julga-se que as mulheres são seres frágeis e débilzinhas. Tão vulneráveis a tornarem-se propriedade do primeiro mânfio que lhes aparecer, que precisam dos homens para proteger a liberdade e o auto-respeito delas. Qual quê!? Não se preocupem, que elas safam-se muito bem sozinhas. Em primeiro luagr, no amor, um pouco de opressão nunca fez mal a ninguém. E em segundo, elas deixam ou não deixam, e, por sua vez, oprimem ou não oprimem, como muito bem lhes apetece...

Miguel Esteves Cardoso
In "A Causa das Coisas"

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