domingo, setembro 14, 2008

Português Suave

Finalmente tive tempo para fazer uma das coisas que mais gosto na vida: Ler! E para tal, resolvi comprar o mais recente livro de uma das minhas autoras favoritas. Ora, posso dizer que, mais uma vez, adorei o livro, o estilo da escrita, que fluí, que nos prende do início ao fim...
Como sempre faço, sublinhei as passagens que me pareceram mais interessantes e eis que aqui estão elas:



  • Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira. (Lev Tolstoi, Anna Karénina).
  • A genética é, acima de tudo, um jogo de lotaria.
  • O mal do novo milénio é a PDS, a puta da solidão.
  • É nossa obrigação tratar daqueles que sempre trataram de nós.
  • Se a maldade tivesse só uma cara... tem sempre muitas e é por isso que nem sempre damos por ela.
  • Há pessoas que nascem más, essa é uma fatalidade que as afecta a ela próprias ainda mais do que aos outros. A longo prazo, todas as cobras acabam por provar o seu prórpio veneno.
  • O bem proporciona gozo a quem o pratica, talvez seja essa a mesma explicação para quem se deleite em actos de maldade com frequência.
  • A maldade é um tema da vida que me fascina porque nunca a senti no sangue. É como um país estranho que nunca visitei, onde só alguns podem entrar. Mas é também e sobretudo a expressão de uma vontade, a vontade de conhecer o segredo das coisas e da vida. A maldade exercida com requinte é um jogo para profissionais, exige paciência, opacidade, destreza, cinismo, sentido de oportunidade. E um desejo quase lúbrico de causar algo em alguém, de poder interferir no destino dos outros e mudá-lo a nosso belo prazer.
  • A vida está cheia de tarefas inúteis. Apaixonarmo-nos pela pessoa errada é talvez a mais inútil de todas.
  • Se uma mulher quiser agarrar um homem, basta-lhe fazer apelo ao pior que existe nele.
  • Nada chega para nos violentarmos, nenhum motivo é suficientemente válido para fazermos mal a nós próprios.
  • A primeira coisa que se esquece de um morto é a voz, e a última é o cheiro da pele. Desse, uma pessoa nunca se esquece.
  • A confusão é o início de uma nova realidade.
  • A solidão é mais pesada quando carrega a morte daqueles que amamos.
  • Uma pessoa habitua-se a tudo, mas nunca se habitua à morte em si mesma, à ideia de que aquelas pessoas desaparecem MESMO, de que nunca mais as voltaremos a ver, a sentir-lhes o cheiro da pele, o calor das mãos, o riso. Se telefonarmos, não atendem, se formos a casa delas, não nos abrem a porta, se lhes escrevermos, não nos respondem.
  • O sexo afasta o medo. O sexo afasta-nos da morte.
  • A morte apanha-nos sempre de surpresa e provoca danos irreparáveis aos que cá ficam.
  • O amor permite ao ser humano essa excepção de abandonar, ainda que temporariamente, a prisão da sua solidão e alcançar uma união superior que transcenda a sua vida individual e reencontre a reconciliação através de outrem, o que tantas vezes conduz à ideia que temos de felicidade.
  • O tempo é implacável, apaga tudo, altera as recordações, engana a realidade, detrói quase tudo dentro e fora de nós. É o maior ladrão da existência e o único impossível de prender.
  • Nunca aprendemos o mais importante, apenas conseguimos adivinhar que o que estamos a viver pode mudar a nossa vida.
  • Um romance sobrevive a tudo, só não sobrevive à falta de interesse.
  • Só há dois tipos de homens: os domésticos, que não dão um passo sem a mulher porque dependem dela para tudo, e os completamente selvagens, que não se fixam em lugar nenhum e que, embora sejam atacados por desvairos românticos profundos e convincentes, gostam é de vadiar, de viajar, de descobrir, de conquistar, de correr riscos, da guerra, da luta, do sonho, da inconsciência.
  • O remorso mata, é como um cancro que se espalha pelo espírito e que vai corroendo os tecidos devagar, uma pedra que fica para sempre encostada à garganta até conseguir esmagar todas as palavras.
  • Só há dois tipos de problemas: os que o tempo resolve e os que nem o tempo resolve.
  • Aquilo que ninguém sabe nunca aconteceu.
  • Na versão original do Pinóquio, o grilo é morto com uma martelada. É o Pinóquio que o mata.
  • O remorso só mata quem não o mata primeiro.
  • Os homens, quando querem uma mulher e não a têm, fazem tudo para a conquistar e seduzir, mas se não se apaixonarem, depois de a terem, não sabem o que fazer com ela. Procuram outra, e outra, e outra, num processo repetitivo e assassino, tão monótono que as histórias que as mulheres contam deles acabam por ser invariavelmente semelhantes.
  • Não há como um homem mostrar o que tem de mais obscuro e imperfeito para uma mulher se apaixonar perdidamente por ele.
  • Sempre admirei as pessoas que sabem brincar com as suas fraquezas, considero isso um sinal de força interior.
  • Devia dar menos importância aos homens – ainda que os ame – e mais importância a mim própria. Se o fizesse, talvez a minha vida deixasse de ser uma repetição monótona de desilusões amorosas e conseguisse finalmente andar para a frente.
  • Talvez o mundo esteja repleto de pessoas que nunca cresceram. Isso explicaria muita coisa.
  • A vida é trapaceira e aldrabona, faz fraquejar os mais fortes nos momentos mais inesperados.
  • Raramente conseguimos fazer aquilo que queremos, mas apenas aquilo para que estamos preparados. Cada um vive como pode e reage aos problemas como sabe.
  • Tant que le coer conserve des souvenirs, l’esprit garde des illusions.
  • Os homens que estão sempre a desaparecer nunca nos trazem nada de bom.
  • Há pessoa que só se sentem bem a viver dentro de gaiolas. São pessoas para quem o mundo cá fora é uma selva demasiado violenta, ou apenas demasiado crua. Pessoas para quem a sinceridade é um incómodo.
  • É o peso da idade. Fingimos que não o sentimos, fingimos o melhor que podemos, mas um dia o peso vem todo de uma vez e nunca mais deixa de nos pesar nas costas, nas pernas, nas mãos, nas memórias, em toda a parte.
  • Vivo como se não houvesse amanhã, porque a verdade é que não sabemos se há mesmo amanhã: o fio entre a vida e a morte é uma linha ténue e traiçoeira, uma pessoa está cá e no instante seguinte morre, desaparece, transforma-se numa certidão de óbito e num corpo inerte, e nada fica, apenas fotografias e memórias.
  • Os problemas dos nossos amigos também são os nossos problemas.
  • É o velho estigma da família: dá sempre jeito haver um ou dois maluquinhos na família. Torna todos os outros membros muito mais seguros.
  • Nunca percebi os homens que só maltratam as pessoas que os amam.
  • Um dos maiores defeitos das mães é conhecerem os filhos demasiado bem; se os conhecessem pior, seriam certamente poupadas a alguns dissabores.
  • Tudo o que alguém tem para si mesmo, aquilo que o acompanha na solidão e que ninguém lhe pode dar ou tirar, é muito mais especial do que tudo o que tem e do que representa perante os olhos alheios. (Schopenhauer).
  • Há coisas que nunca se esquecem. E há coisas que nunca mais queremos lembrar.
  • Ninguém sobrevive uma vida inteira sem enfrentar os seus fantasmas, nem que seja por uma vez.
  • O respeito é como a virgindade, só se perde uma vez.
  • Os homens solteiros chegam ao fim-de-semana e entram em desvario, querem é beber copos e ver miúdas, e se os amigos estão ocupados com namoradas ficam muito nervosos, porque sentem que estão a perder um companheiro de caça. A maior parte deles também gostava de arranjar uma namorada porreira, embora não o confessem.
  • O tempo é o melhor juiz para o bem e para o mal, porque também ele vence tudo; o mundo muda e o tempo fica, vai passando e fica, nós todos morrendo e o tempo fica, e o tempo nunca volta atrás, nunca nos traz o que perdemos, nunca tem pena de nós e nos devolve a vida outra vez como ela era.
  • Não vemos aquilo que não conhecemos. A nossa percepção é sempre ridicularmente curta, apenas alcança o que pode, não o que quer. A nossa percepção é cega, nem sequer sabe o que quer, ou então, evita ver o que lhe é desagradável.
  • O problema é que ninguém é menos conhecido do que cada um de si mesmo.
  • Não responder também é uma resposta, talvez a única eficaz quando a realidade nos é tão dura e esmagadora que só nos apetece enterrar a cabeça e dormir para sempre.
  • O segredo do bem-estar e da virtude consiste em amar aquilo que somos obrigados a fazer.
  • Sinto-me fora da realidade, a viver num universo alternativo, mas não é isso o amor? E se for, não pagamos todos um preço elevado por ele? E na vida, quanto mais não vale um amor feliz, ainda que um dia acabe, do que viver sem saber o que é um amor assim, completo, desenhado a prazer e a entendimento?
  • Os amigos esperam sempre por nós, respeitam as nossas ausências e o nosso silêncio durante o tempo que for preciso, também é para isso que servem.
  • A partir de uma certa altura, percebi que era eu que fazia tudo por ele, e isso não é bom para nenhuma relação.
  • A sorte é um acaso, mas a felicidade é uma vocação.
  • As únicas famílias felizes são as que se conhecem mal. (Lucía Etxebarría).
  • A minha alma está parva. Hoje é o dia de todas as revelações. Se for lá fora, ainda me aparece a Nossa Senhora de Fátima atrás de uma árvore a desafiar-me para uma partida de poker...
  • Não vale a pena mexer no passado. Além disso, uma coisa de que não se fala, não existe. É a palavra que dá vida às coisas, quanto mais se fala, mais elas crescem, aquilo que ninguém sabe nunca existiu.
  • Pode-se enganar todas as pessoas durante algum tempo; pode-se até enganar algumas pessoas durante o tempo todo, mas não é possível enganar todas as pessoas durante o tempo todo... (Lincoln).


in «Português Suave»
Margarida Rebelo Pinto

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